quarta-feira, 12 de março de 2014

Despedida


E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.

Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.

E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?

Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil. 

Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus. 

A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.


Extraído da obra: A traição dos elegantes.

Mário Quintana


"No retrato que me faço

- traço a traço -

às vezes me pinto nuvem,

às vezes me pinto árvore…

às vezes me pinto coisas

de que nem há mais lembrança…

ou coisas que não existem

mas que um dia existirão…

e, desta lida, em que busco

- pouco a pouco -

minha eterna semelhança,

no final, que restará?

Um desenho de criança…

Corrigido por um louco!"


Lou Salomé


"Ouse, ouse... ouse tudo!!

Não tenha necessidade de nada!

Não tente adequar sua vida a modelos

nem queira você mesmo ser um modelo 

pra ninguém.

Acredite: a vi lhe dará poucos presentes.

Se você quer uma vida, aprenda... a roubá-

la!

Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que 

acontecer".






quarta-feira, 5 de março de 2014

Veja isso!



                       No ato do consumo, ou mesmo da escolha do público por um veículo de transmissão, não somente toma-se em conta o conteúdo, mas o discurso. Sendo assim, a “conceituação” atribuída pelo público fica enraizada na construção de uma imagem intencional do veículo, para atingir os espectadores.
            Assim, como dissemos na matéria anterior, o público não tem tido acesso aos acontecimentos ‘detalhados’ sobre as manifestações em São Paulo. Eu diria, mais especificamente, sobre a relação entre manifestantes e policiais. Os líderes dos grupos de manifestos populares (pequenos em relação às emissoras de TV) possuem esses vídeos e compartilham da maneira que podem. Porém, com a falta de “espaço” disponibilizada para exibição na grande mídia (lembrem-nos, também, dos jornalistas e fotógrafos que tiveram seus equipamentos destruídos), acabam nas mãos de quem já possuía tais expectativas e/ou informações. Enquanto isso, o grande contingente que só busca acesso da grande mídia nos permite deparar com opiniões como aquelas outrora já comentadas: “tem que matar mesmo”. Ou ainda: “adote um bandido”!
            De maneira ousada, sugiro que tais comentários tenham sido proveniente da falta de informação e/ou da busca de perpetuar (por meio de seu ofício público) uma posição política. A diversidade de vozes conhecida como polifonia é rica, desde que haja coerência; seja adequada ao público e ofereça o conteúdo correto e detalhado aos espectadores.
            Começo pelo caso daquela militante chamada pela revista Veja de: “A fada da baderna”. E, para poder começar criticando o título tive o cuidado de consultar no dicionário, o significado da palavra “baderna” para evitar correr o risco de estar me apegando a valores pessoais, impregnados de representações imaginárias.  Vejamos, pois:

 Baderna: “1. Turma boêmia e bagunceira; 2. Boêmia, noitada: era um estudante que gostava da madrugada e só vivia na baderna. 3. Bagunça: confusão, desordem; anarquia: essas torcidas organizadas gostam mesmo  é de uma baderna![1]

            Concluímos pelas definições acima a rotulação de uma militante que, segundo a revista mencionada, resume-se a uma “menina” (anarquista) bagunceira, adepta de muitas noitadas e que só vive criando confusão. Será que ela também não é amiga; confidente; filha; prima; sonhadora? Nunca teve o coração partido, nem pegou uma virose qualquer? Parece que ela se transformou no que a grande mídia condensou, assim como todo e qualquer manifestante, dos atos de 2014.
            Não sou a favor da desordem e da agressão, como deixei claro na primeira matéria, e meu objetivo aqui, ainda, é que tiremos os olhos da manifestação, como temos notado até então, e nos atentemos aos manifestantes com olhar crítico e sem que nos utilizemos de um “recurso metonímico”, ou seja, tornar uma parte, o todo.             Pretendo atingir a linha do meio, que aceita as vozes e dialoga, reflete, critica e não agride para, doravante, defender um ponto de vista.
            Ainda sobre a matéria, chama-me a atenção o fato de a revista suscitar que “alguns partidos políticos” enxergam os Black Blocks com benevolência: quais e por quê? Não podem ser vistos assim? Vivemos numa ditadura? Como deveriam ser vistos, ou melhor: como vocês querem que sejam vistos e por quem (quantos)?

            Sobre os participantes do Black Blocks, dizem que “o grupo carrega nos ombros” (como uma cruz) “uma morte” (a do cinegrafista). TODOS? São todos culpados?  E, na mesma frase, com tom suave e “elucidativo”, afirmam que a militante conhece os “bastidores da turma”. Eu digo: “Claro que conhece!” Participam do mesmo grupo, oras! Isso seria uma evidência para a consumação de sua sentença também?
            Ainda, afirma a revista: “estuda cinema”! Sim, “a mulher perigosa”, além de tudo é inteligente e tem dinheiro (aparentemente). E, além de eu ironizar, indago sobre a afirmação: “é boa de arrecadar dinheiro”: o que isso quer dizer, será?!
            Não me adentrarei a todos os pressupostos e subentendidos deixados como rastros discursivos sobre política, pois minha intenção aqui não é atacar a revista, mas destacar a rotulação realizada, debruçando meu olhar, como já mencionado, nos participantes e na carência de dados reais e específicos, melhorando a proporção entre conteúdo e discurso, fomentando a reflexão, a fim da justiça social.
            Eu sou totalmente contra atos de vandalismo e declarei na matéria anterior que um conhecido (socorrista) fora atacado pela polícia, expus meu pesar sobre isso, como sinto por todos os que não foram divulgados e também pelo cinegrafista.  No entanto, é uma grande injustiça, nós tecermos um balaio de assuntos, previamente costurados sob uma trama, de fios sem procedência especificada, com acabamento escolhido pela mídia, confeccionado e consumido de forma indiscriminada.
            Reflitamos, também, sobre o fato de um lugar público possibilitar e ampliar a presença dos “chamados” vândalos e que cada um corre o seu risco e arca com sua responsabilidade não somente ao sair de casa, mas ao viver!
            A intencionalidade é direito desde que nos permita um olhar crítico, além de todos os detalhes e coberturas possíveis.  Em entrevista, inclusive, a militante defende seus companheiros, o que é lógico, pois, nem todos os participantes são vândalos e ou foram responsáveis pela morte do cinegrafista. Ademais, nos permite concluir sobre a conscientização de cada um ao arcar com suas responsabilidades.
            Não há dúvidas de que os Black Blocks, na maioria das vezes, cometem atos desnecessários e prejudiciais ao bem estar público e, por um lado, denigrem a imagem do protesto em si. Sobretudo, cientes de que a grande mídia está à espera de mais um ato de vandalismo. Entretanto, será que se houvesse alguma resposta, negociação ou justiça, a atenção dos “peixes grandes” não poderia ser chamada de outras maneiras? Há que se refletir.





[1] Mini dicionário Sacconi

terça-feira, 4 de março de 2014

Namora comigo?


Outrora dizia: " se algo de amor acontecer... se deveras bom, emergirei à realidade. 
Abraçarei a vida, acolhendo suas dificuldades e docilidade!"


Doravante, pude proferir: "Não me importa que seja o único; o definitivo que me atrai - esse homem sobre quem deposito interesse - quem me faz orgulhar pelos meios e atirar sobre os fins. A ele, tão livre e seguro, dedicaria minha espera sem sacrificar-me. Ofereceria-lhe, sobretudo, parceria e senso de amizade.  Adoraria garantir-lhe sossego, quando disponível; despojamento, quando disposto. Sorriso, sempre."


Hoje, ainda, com o mesmo ideal, arrisco-me, por meio da intensidade fomentada, proveniente de um interior passional, sobre o qual ouso afirmar "estar" deixando "ser". Entrego-lhe a última escolha léxica que abarca a possibilidade de que nos conectemos, transpondo até mesmo, as tentativas (em vão) das dificuldades impostas pela distância e ausências, tão delicadas pois, caracterizariam sempre, a promessa de um novo encontro. 

Namora comigo?



quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Prefiro a opção mesmo que doa


Extrovertida ou introvertida?


            Debates sobre as constantes transformações por quê passamos, sobretudo, a partir da evolução tecnológica; o fim das barreiras (ou começo) comunicacionais e sua influência no comportamento e cognição, deveriam ser assuntos corriqueiros entre as pessoas. Porém, tais  fenômenos são somente relevados, com base teórica, porém, na prática, poucos ainda sabem como lidar com a situação.
            Pois bem, lá estava eu, numa consulta com o psiquiatra. Antes que você me pergunte o porquê, eu explico. As pessoas, às vezes, sofrem de uma falha comunicativa, sobretudo, diante de uma possível exaustão causada pelo conflito entre orgulho e convivência. Como aquele momento tão esperado, em que você engole uma pílula e se torna alguém diferente, com costumes diferentes, condizentes e adequados com o que o outro espera de você. Eu, por outro lado, pensei que seria bom se eu pudesse me encaixar sem ter que correr o risco de mais uma vez estar estragando tudo,ou fazendo algo de errado de novo.
Chegando lá, o médico me pergunta: "Você é eufórica"?

- Não.

- Não?

- Acho que o normal.

- Hmmm... normal... Extrovertida?

- Depende...

- É ou não é?

- Num dia normal, não. Sou tímida.

- Poucos amigos?

- Muitos.

- Então é extrovertida.

- É, com eles, sou.

- Sempre teve essas oscilações?

- Não tenho oscilações. Vim pela insônia.

- Tem, sim. Diz que é tímida e extrovertida...!

[Porra, DEPENDE DO CONTEXTO! No facebook eu não me comporto exatamente como me comporto em casa; que não é igual ao comportamento numa balada; que não se assemelha, nem um pouco, com a forma com que eu me comporto no mestrado. É preciso muito rebuscamento para que se saiba disso?]

            Não disse nada disso, no entanto. Mantive a elegância e a timidez, afinal, não tinha bebido e ele não era meu conhecido!

 - Então, gosta de beber.

- Quando saio... nem 1 vez por semana.

- Gosta de sair.

- Gosto.

- Então, não fica em casa.

- Fico.

- Mas não gosta.

- Adoro!

- Prefere, então.

- Não. Só acho mais fácil.

- Menos mal, assim para de beber.

- Não devo beber nem no Reveillon?

- Nunca mais!

- Aí, a introversão me mata.

- Esse é o perigo!

O pior de tudo isso é a gente querer achar um rótulo, só pra auxiliar no processo e não conseguir.

- 32 anos?

- Quase 33.

- Casada!

- Não...

- Só namora?

- Não, não tenho namorado.

            Engulo seco... por um momento, toquei no cantinho escondido. Há uns três dias, estava lidando melhor com "aquele" assunto. Mas parece que as pessoas não supõem que, embora seus relacionamentos não tenham nome (e acreditem, eu odeio isso) eles existem.

- Nada? Nem namorado?

[Lágrima me ameaçando horrores.]

-Não...!

["Não entrar no facebook hoje! Não entrar no facebook, hoje! - Code blue! Code blue! Porra! Eu tava começando a administrar melhor meu último 'alguma-coisa'!"]

- Mas, por quê?

            "Oi"? Minha vontade, bem grande, era dizer: " Meu chapa, se você arrumar o homem que eu escolher e convencê-lo a não sumir e não me tratar como "brother" depois de uma noite empolgante e romântica, eu pago cinco consultas em uma! Pode ir fazendo o contrato"!

[É minha a culpa de não estar com ninguém, mesmo? Porque já me parecia que havia algo de errado comigo. Agora, se qualquer um de vocês me disser que tenho qualquer tipo de transtorno, eu acredito.]

- Não tenho namorado porque não deu certo com o último.

["Aquele maldito! Tão lindo e inteligente ...tento enviar mais uma mensagem? Nunca! Nem no leito de morte! Mas e se for culpa minha? Code blue! Code blue"!]

- Mas...precisa namorar, faz bem.


            Bem, aqui não sabemos se ele se refere ao "alívio" - e, se for, alguém precisa avisá-los (sim, no plural) de que isso eu faço sozinha- ou a um relacionamento. Porque pela 1000 vez, alguém dá a entender que eu não posso estar bem sozinha e que, se estou, é uma escolha muito perigosa. Valha-me Deus!

[Lembrando, ainda e intensamente, agora, de todas as características, traços, timbre, cheiros e diálogos, da minha última história mal sucedida.]

Diz o médico:

- Você me parece meio deprimida.

- Bem, é que você tocou num assunto...

- Mas um pouco hiperativa.

- É que tenho estado uma pilha, ultimamente.

[E, que tal agora, um AVC?]

- Academia não serve pra nada, não adianta correr atrás de títulos. Mestrado ou doutorado?

- Mestrado.

 - De qualquer maneira, não beba nunca mais. Isso é cultural, não é um gosto verdadeiro!

[Claro, minha gente. Da mesma forma que "casar" resolveria todos os meus problemas.]

- Saia mais, estude menos, namore!

[Sim, paga aí um homem interessante, que fique comigo até a semana seguinte sem estar quase morto de carência, ou ser o "Joselito" do pedaço.]

- Seu remédio para a oscilação de humor...

- Você ainda acha que sou bipolar!


- Não, não. é que faz bem, é gostosinho...!