sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Deu motivo, seje culpado!

Façamos um exercício simples, de memória. Lembremo-nos da maioria das pessoas que postam diariamente críticas sobre a injustiça no país; acrescentemos aquelas que fazem uso de frases como "sou gorda, mesmo, e você que é feia?"; pessoas que adoram perceber fraquezas no exercício religioso do próximo ou de um determinado grupo para apoiar a "religião certa em nome de Deus". Teríamos uma série de outros casos, mas podemos parar por aqui. Em cada página do facebook, por exemplo, a soma dessas pessoas não resultaria em menos de 100. 
Considerando que os objetos são distintos (música, religião, política, economia, mídia) o que aproxima uma "ideia" da outra? A busca pela inclusão por meio da defesa, diante de algum tipo de julgamento ou preconceito. Qualquer tipo de rejeição ou ação, impregnada de ideias preconceituosas, machuca e é natural que, aqueles que se sintam provocados, façam o maior esforço para expressarem suas indignações, como ato de defesa.
O que se faz incongruente, no entanto, é que muitos dos que se sentem lesados utilizam-se do mesmo recurso contra o qual reivindicam, agridem da mesma forma que foram agredidos e agem de maneira preconceituosa em outras esferas de suas vidas. "Retrucar" era uma palavra utilizada pelo meu pai, cujo significado assemelha-se ao "devolver na mesma moeda", o que ausenta a razão de todo um contexto onde é encontrada a diversidade de vozes; uma batalha pelo poder.
Nas últimas semanas, tenho tido muitas notícias sobre agressões policiais em manifestações. 

[Comentário]Tomemos nota de que, esse assunto não é uma novidade e que esse tipo de agressão não ocorre somente em manifestações. Porém, percebo (com satisfação) que, agora, o tema tem se tornado proeminente, graças a pessoas que ilusoriamente gostariam de salvar o mundo. Aquietem-se! Não estou sendo incoerente: apoio aqueles que abraçam uma causa que julgam justa (sobretudo em prol da sociedade) sem a preocupação de que se "ganharão" a batalha. Ademais, essas mesmas pessoas conhecem a possibilidade (com base em números, probabilidades e proporções) e sabem do "tantão" que se arriscam e que sonham. Muito mais do que nós, pobres observadores.
Sobre a maioria das reivindicações serem tecidas sobre aspecto coletivo, acredito que seja por conta da maior possibilidade de registro. Nas manifestações, temos muitos "cidadãos à paisana", que a metáfora seja aqui, entendida como mero jogo de palavras e não um ataque. Sou totalmente à favor de todas as formas de documentar as evidências contra a violência.

Entrelaçando um fragmento do texto ao outro, o que me incomodou foi um post em particular em que uma pessoa não concordava com a denuncia feita contra um policial, em momento de agressão. Discordar é diversidade de vozes, que enriquece a reflexão. Porém, a pessoa alegava que o agredido poderia ter "provocado" o policial. Entretanto, nenhuma provocação que me tenha passado à cabeça (inclusive aquela sugerida pelo autor em defesa do policial), poderia se equiparar àquele ato de violência. Na minha humilde (nem tanto) cabecinha (aí é pra zuar, mesmo) essa argumentação se assemelha muito àquela antiga questão do estupro em que a justificativa à favor do estuprador eram as vestes das vítimas ou até mesmo seus comportamento. 
Na igreja, as pessoas cultivam o horror a Pôncio Pilatos, que "condenou" (sim, ficar em cima do muro é tomar uma decisão) Jesus; diante de culturas distintas, as pessoas mostram-se indignadas diante de adúlteras apedrejadas; mais atualmente, atacamos Raquel Sherazade por sua aparente incongruência ao adular Justin Bieber e condenar aquele que ela mesma chama de "marginalzinho" do Rio de Janeiro.
Estamos entretanto, agindo diferente da repórter? Estamos praticando o que dizemos e somos coerentes em nossas ações, ou agimos de acordo com o que nos é mais conveniente? Atire a primeira pedra quem nunca ouviu "eu não sou homofóbico, mas não admito que aconteça com meu filho". E mais: quem nunca se muniu de recursos agressivos e violentos frente a um julgamento alheio?
Quantas desses "justiceiros" facebookianos, religiosos que apenas reproduzem o que ouvem e todos os demagogos "politicamente corretos" não defenderiam um policial agressor, que fora provocado ou um estuprador de uma "jovem saliente desde os tempos do colégio"? Quantos deles não dizem lutar pela justiça social na mesma semana em que escrevem de forma pejorativa "esse é o Brasil" ou "odeio gente" - até mesmo - "pobre é uma merda"?
Em verdade vos digo: falta critério!